O Festival Internacional de Cinema Queer do Porto completa a primeira década de vida com mais de 50 filmes a serem exibidos durante cinco dias. De 8 a 12 de outubro, o Batalha Centro de Cinema, o Passos Manuel e a Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto são os locais que acolhem esta edição comemorativa, em sessões de diferentes nacionalidades.
Há dez anos que o Queer Porto já faz parte do calendário da cidade. O festival de cinema chegou de forma tímida, depois de um historial longo na capital. Procurava dar a conhecer (e ver) títulos que não passavam no circuito comercial e mostra alguma da cinematografia independente feita nos circuitos queer a nível mundial.
Dez anos depois, a cinematografia nas se esgota e os títulos continuam a ser mais que muitos. Para a direção do Festival, o contexto atual continua a ser um desafio para os trabalhos considerados, ainda por muitos, como marginais. Dizem que “a atual situação política global, e as suas consequências sociais e culturais, é um desastre há muito anunciado e um rastilho para um futuro próximo que dificilmente vislumbramos sem um manto de desesperança. A ascensão das extremas-direitas e dos populismos, um sentido de comunidade e entreajuda abalroado pelo individualismo narcísico das redes sociais, crescentes assimetrias sociais e expressões de ódio disparadas em todas as frentes, são alguns dos fenómenos a que temos assistido.”
Ora, continua a direção, “foi a partir do desafiante olhar a este contexto que a equipa de programação do Queer Porto pensou um programa sobre a pertença, uma reflexão sobre que lugares são estes que ocupamos hoje”.
Nesta edição há “um olhar complexo sobre as realidades das pessoas e comunidades LGBTQI+ nas mais diversas geografias, nos seus confrontos externos, mas também internos, no que é que significa ser-se queer, hoje, nas suas múltiplas expressões e desafios.”
Destes 55 filmes que fazem parte do cartaz, pedimos ao diretor, João Ferreira, que selecionasse uma mão cheia de títulos a não perder nesta edição.
1 - “A Metade de Nós”, de Flávio Botelho (2023, Brasil)
Quinta-feira, 10 de outubro
19h15, Batalha Centro de Cinema (Sala 1)
Neste filme, o realizador aborda a história de Francisca e Carlos, que lutam para se adaptar à nova realidade após o suicídio do único filho, Felipe. Mergulhados em fantasias, medos e melancolia, o casal separa-se. Carlos muda-se para o antigo apartamento de Felipe, alienando-se na vida do filho morto. Já Francisca, assombrada pela culpa, dedica-se a desvendar o enigma do suicídio. Um dos mais recentes títulos do realizador Flávio Botelho, em estreia na cidade.
2 - “Can’t Stop Change: Queer Climate Stories from the Florida Frontlines”, de Vanessa Raditz, Natalia Villarán-Quiñones, Yarrow Koning, Shoog McDaniel e Jess Martínez (2024, EUA)
Quinta-feira, 10 de outubro
19h30, Batalha Centro de Cinema (Sala 2)
À medida que se põe termo a mais um período legislativo, este documentário retrata o impacto quotidiano dos ataques às comunidades queer, trans e a outros grupos marginalizados na Flórida. Através de entrevistas sobre a subida dos níveis do mar, tempestades mais agressivas e a escalada da violência estatal na Flórida, o filme articula uma narrativa temporal e interseccional de justiça climática.
3 - “Lady Like”, de Luke Willis (2024, Reino Unido / EUA)
Sexta-feira, 11 de outubro
19h15, Batalha Centro de Cinema (Sala 1)
Este documentário narra a jornada do artista inglês Rex Wheeler, mais conhecido pelo nome artístico Lady Camden, mostrando parte de sua difícil infância e como o ballet foi um caminho para a autoexpressão, assim como a arte drag, quando esta se torna uma nova paixão, a ponto de transformá-lo numa celebridade drag internacional por ter conquistado o segundo lugar na 14ª temporada do reality show estadunidense RuPaul’s Drag Race.
4 - “Lesvia”, de Tzeli Hadjidimitriou (2024, Grécia)
Sexta-feira, 11 de outubro
19h30, Batalha Centro de Cinema (Sala 2)
O filme narra mais de 40 anos de identidade lésbica e de conflito entre os moradores de uma pequena vila na ilha grega de Lesbos e as lésbicas que chegaram em busca de amor, liberdade e comunidade.
5 - “The Visitor”, de Bruce LaBruce (2024, Reino Unido)
Quarta-feira, 9 de outubro
22h00, Passos Manuel
Neste filme o realizador propõe uma releitura do “Teorema” (1968), de Pier Paolo Pasolini, onde o cineasta faz uma crítica aos costumes da burguesia. Terence Stamp interpretava o “convidado” que, um a um, seduzia os membros da família e, ao partir, deixa neles um enorme vazio existencial.
Escolhas de João Ferreira, diretor do Queer Porto
Edição: José Reis