19/06/2024

O cheiro a manjerico desperta os sentidos na Praça General Humberto Delgado. Com o aproximar do São João, a tradição repete-se e, desta quarta-feira, 19 de junho, até sábado, 22, um jardim suspenso dá nova vida ao espaço em frente ao edifício da Câmara Municipal. A instalação artística “Flores de Manjerico” é da autoria do atelier de arquitetura FAHR 021.3 e está a celebrar dez anos.

 

 

Flores de Manjerico” é uma estrutura de madeira, que parece suspensa, inspirada nas tradicionais bancadas de venda de manjerico. Composta por duas peças de grandes dimensões, dispostas em V, com um caminho desenhado no meio, que permite como que “passear” e percorrer por este manto verde, de forma a envolver e despertar os sentidos de quem por ali passa.

 

 

Filipa Frois Almeida, arquiteta do atelier de arquitetura FAHR, confessa: “gosto muito quando as pessoas começam a ver coisas que nunca tínhamos imaginado, pode ser o vale de uma das ruas de Mouzinho da Silveira, por exemplo, mas não foi pensada com esse contexto ou referenciada na morfologia da cidade. Mas é interessante ver as diferentes perspetivas que o olhar de cada um desperta”.

 

 

Para Hugo Reis, um dos mentores do projeto, “é interessante ver o caracter formal que existe e que é a ideia de podermos percorrer algo que se eleva sobre nós. É uma geometria muito simples, que nos convida a percorrê-la. De repente os manjericos elevam-se sobre nós e estamos como que no meio de um jardim”.

E acrescenta: “a força do projeto não está diretamente relacionada com a forma em si, mas pelo facto de ter gerado um novo programa à volta do manjerico. As pessoas sabem que no final os manjericos são oferecidos à população e que há um ritual que se vai gerando à volta da própria peça. Durante as montagens a curiosidade é muito grande, sobretudo para os turistas, que não sabem o que representa o manjerico. Acredito que esta estrutura também cumpre o papel de expor e dar a conhecer símbolos característicos da cidade”.

 

 

A instalação “Flores de Manjerico” foi mostrada pela primeira vez ao público em 2014.

“Representa uma nova forma de olharmos para este símbolo do São João, o majerico, e usufruirmos dele. Construímos um jardim suspenso, com odor a manjerico”, diz Hugo Reis.

 

 

Filipa acrescenta que “esta peça foi pensada para estar exposta durante alguns dias, uma única vez, e ao longo de uma década as evoluções foram sobretudo nos locais por onde a estrutura foi viajando na cidade. Foi dada a conhecer em diferentes contextos. Inicialmente, foi pensada para estar no enfiamento de uma rua estreita, a Rua das Flores, mas já esteve noutros sítios como praças e com contornos diferentes. Esta peça não se limita a ser algo que pode ser percorrido e atravessado, mas é também uma escultura que eleva um símbolo da festa de S. João”.

 

 

“A obra não se encerra sobre si mesma”

 

Temos feito muita intervenção em espaço público e interessa-nos esse lado em que a obra não se encerra sobre si mesma, mas mantém-se aberta e disponível para outras interpretações, outros usos, outras vivências. Não nos interessa controlar o resultado, mas deixar em aberto e sermos surpreendidos pela forma como as pessoas interpretam este trabalho. A instalação `Flores de Manjerico´ vai ao encontro desta ideia”, diz Filipa Frois Almeida, arquiteta e fotógrafa. 

O estúdio FAHR 021.3 cruza arte e arquitetura, explorando diferentes conceitos que procuram criar realidades inesperadas.

 

 

 

Hugo Reis, cofundador da FAHR, arquiteto e investigador na área de arquitetura e urbanismo, explica que “no nosso dia a dia, no atelier, trabalhamos muito através da criação espacial, com a ideia de convocarmos algum sentido critico, de que há mais que nos aproxima dos comportamentos humanos”.

“Somos também resultado de práticas que foram surgindo ao longo dos últimos anos, o nosso estúdio reage muito à exploração do espaço publico como mostra de arquitetura e não só. Seja no espaço interior, em formato museu ou estrutura urbana e até outras escalas maiores, interessa-nos propor relações não imediatas, não diretas, mas que nos permitam ver o contexto em que vivemos, o que somos, de uma outra perspetiva”, refere.

 

 

Esta é uma iniciativa da Câmara Municipal do Porto, através da Ágora, e faz parte do programa das Festas de São João. Os 900 manjericos são cedidos pelo Horto Municipal do Porto e no domingo, dia 23, são oferecidos à população pela mão de Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto.

 

Este jardim de manjericos pode ser visitado e percorrido a partir desta quarta-feira, na Praça General Humberto Delgado.

 

Texto: Rute Fonseca

Fotos: Nuno Coelho 

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