A partir desta sexta-feira, 17 de novembro, e até ao dia 25, o “cinema do real” ocupa as salas da cidade do Porto. O Porto/Post/Doc promete um conjunto de documentários que “atira para todo o lado”, no bom sentido da imagem: há filmes em estreia, clássicos da música revistos em cinema e um sem número de títulos que não podemos perder. O Batalha Centro de Cinema é o espaço que acolherá a maior parte das exibições, mas as projeções estendem-se ainda ao Passos Manuel. Dario Oliveira, diretor do Festival, facilita-nos as contas: como o tempo é escasso e os euros podem não abundar, pedimos uma seleção de 10 filmes a não perder nesta edição. As escolhas, diversas, são estas:
O lendário fotógrafo e realizador Robert Frank tem neste filme a sua última longa-metragem (coassinada pelo escritor e argumentista Rudy Wurlitzer). Após publicar o famoso photo bookThe Americans, Frank deixou a fotografia e lançou-se no cinema, aproximando-se da geração Beat (trabalhou com Kerouac e Ginsberg) e do movimento rock (acompanhou os Rolling Stones).
Jocelyne Saab começou como repórter para a televisão francesa, mas com o início da Guerra do Líbano regressou a Beirute. Ao longo do conflito, realizou uma série de documentários, dos quais se destacam os três que compõem esta sessão. O seu trabalho já foi comparado (pelo retrato das ruínas e pela atenção à infância) aos filmes do pós-Segunda Guerra de Roberto Rossellini.
Yukio Mishima é um dos escritores mais marcantes do século XX. Escreveu 35 romances, 25 peças de teatro, mais de 200 contos e centenas de ensaios. Mas a sua importância não se circunscreve à literatura, foi também ator, modelo, pensador e revolucionário nacionalista que fundou a milícia Tatenokai através da qual pôs em marcha as suas posições essencialistas. É, ainda hoje, uma das figuras mais controversas no Japão.
A cerimónia de entrega de prémios do PPD é antecedida pela exibição da nova curta-metragem de Aya Koretzky. No final dos anos 1970 e inícios dos 80 na cidade do Porto, começaram a surgir concertos de bandas rock e punk. O 25 de Abril de 1974, que pôs termo à mais longa ditadura da Europa, trouxe liberdade política e criativa. Através de uma série de tableaux vivants baseadas nas fotografias da época, cujos modelos são os jovens do Porto dos dias de hoje, o filme conta, na primeira pessoa, pequenas histórias pessoais dos que estiveram no coração dessa época
Este filme conta a história da ascensão, pico e colapso dos The Birthday Party, banda fundada por Nick Cave e Rowland S. Howard no final dos anos 1970. O realizador Ian White recolheu inúmeros materiais de arquivo (registos raros das atuações da banda, faixas inéditas, filmagens de estúdio e outros documentos) e juntou-lhe entrevistas exclusivas aos protagonistas desta banda pós-punk australiana que durou pouco mais de cinco anos.
Zahra e Maria conheceram-se na universidade quando estudavam medicina em Bucareste no final dos anos 1970. Zahra regressa ao seu país de origem, o Irão, e Maria fica na Roménia. A partir daí inicia-se uma troca de cartas que acompanha a deposição do Xá e a consequente revolução islâmica e, paralelamente, a progressiva degradação do império soviético e a abertura aos valores ocidentais.
A atriz Hiam Abbass fez a sua carreira de cinema entre França e os Estados Unidos. A bem da sua carreira, deixou a sua família e o seu país aos 23 anos, mas anos depois começou a visitar a sua aldeia natal, na Palestina, juntamente com a filha, Lina Soualem. A filha tornar-se-ia realizadora e com base nos filmes de família, feitos nas férias de verão, construiu “Bye Bye Tibériade”, um documentário íntimo que descreve o encontro de quatro gerações de mulheres e as suas histórias de separação.
“El Eco” é o nome de uma pequena aldeia no norte do México. A realizadora Tatiana Huezo passou um ano junto desta comunidade e acompanha três famílias: jovens mães, muitas crianças, uma avó muito frágil e uma série de pais ausentes, quase todos trabalhadores da construção civil que partem por longas temporadas.
Ao longo de quatro anos, o realizador Éric Baudelaire encontrou-se com estudantes de liceu do colégio Dora Maar, em Saint-Denis (nos subúrbios de Paris). A razão desses encontros: um clube de cinema. Para muitos daqueles rapazes e raparigas, as imagens em movimento são sinónimas de vídeos de Youtube e redes sociais – e já pouco se interessam pela dita sétima arte. Através de um espaço de descoberta e partilha, onde se fomenta a amizade e o espírito de comunhão, aprende-se cinema e, mais importante, desenvolve-se o olhar crítico e a confiança. É um tempo de crescimento e de criação – em particular deste filme, do qual eles são simultaneamente sujeitos e autores.
Quando a fase mais recente da Guerra da Ucrânia começou, o realizador polaco Maciek Hamela pegou numa carrinha e, com a ajuda doutros voluntários, começou a evacuar pessoas que fugiam das zonas de combate. In the Rearview traduz esta qualidade dupla, ele conduz as pessoas (em viagens sucessivas) através de campos minados e postos de controlo militar e filma as várias viagens a partir do espelho retrovisor. A sua carrinha é, assim, um hospital, um abrigo, um local de partilha e de reunião de um país em estado de sítio. Um filme que entende que o cinema pode fazer a diferença, mesmo que seja só para cinco pessoas de cada vez.
Edição: José Reis