O ócio é, por norma, o tempo que o tempo permite ao ser humano ter tempo para o tempo. Essencialmente, que o tempo tenha outro tempo. E foi a pensar nisso que um conjunto de amigos estendeu o seu tempo (de ócio) ao tempo (de ócio) dos outros. Assim nasceu o Ócio, em 2012, um espaço que é mais que uma só coisa: é um local de muitos para todos. Agora inaugura uma nova exposição no próximo sábado, dia 13, numa casa nova. O projeto conta com o apoio do Criatório.
No próximo ano, em 2022, o “Ócio” completa dez anos de vida. É o tempo de fazer balanços, tempo de passagem para uma nova década, o tempo ideal para as mudanças. Mudanças que começam já neste ano, com a abertura de um novo espaço – o quarto em quase dez anos. Porque nunca se é feliz sempre no mesmo sítio.
“Passamos já por diversas ruas de relevância na história cultural da cidade – na Rua de São Vítor, na Passos Manuel, na Rua Duque de Terceira. Iniciamos este ano a estadia na Rua do Heroísmo, inserindo o espaço num dos locais mais emergentes da cena artística contemporânea da cidade”, assume Maria von Hafe, um dos elementos desta equipa (ou “rede extensa de pessoas”, como prefere descrever”).
O Ócio enquanto ideia logo materializada em local nasceu há quase dez anos, “fruto de um encontro e compromissos entre amigos”. Da união fazem ainda parte, hoje, Carolina Gaspar, Daniel Assunção, Hugo Oliveira, João Parra, João Soares, Nelson Duarte, Raquel Peixoto e Noémi Silva, para além de Maria.
Programação em três vertentes
A ideia, mantida até hoje, era (ainda é) a de conceber uma programação que assenta(va) em dois pilares fundamentais: “o prazer e a partilha”. De dentro para fora e de fora para dentro, e sempre de forma complementar.
“O principal objetivo é o de estreitar, sedimentar e impulsionar o espírito que nasceu da relação entre a comunidade interna - formada dentro e ao redor do círculo de artistas e agentes culturais - e o Bonfim, enquanto lugar composto de outros indivíduos, não só ligados a espaços culturais do bairro, como também aos que representam os locais de encontro que existem nesta localidade”, admite Maria, em nome da equipa que corrobora esta linha de pensamento.
O projeto ganhou assim expressão visível em três vertentes distintas: nas artes plásticas, com o ciclo “Viagem ao Anti-Centro”; na performance, com um ciclo intitulado “Ócio S.A. Mente”, numa curadoria de Ana Rocha; e na música, com uma série de concertos que concretizam o programa “Mera em Síncrono”, com curadoria da editora Mera Label.
Mas há novidades neste ano (e nesta nova casa que os acolhe a partir de agora: “ao longo deste ano contaremos também com almoços com os artistas, numa série intitulada ‘Assim Conversas Melhor’”, revela Maria von Hafe.
“O foco mantém-se sempre na partilha de um modo de estar ligado à prática artística colaborativa, e na celebração das relações íntimas que se estabeleceram ao longo dos quase dez anos que se passaram”, revela a também artista e responsável.
Próxima inauguração
No próximo sábado, 13 de novembro, inaugura a primeira exposição desta nova vida: “Visões Estáticas”, de Juliana Campos, um conjunto de desenhos, feitos lentamente e repetitivamente, através de uma grelha.
Trata-se de uma grelha que serve de ponto comum entre camadas, que permite que as formas livres se pacifiquem e encontrem o seu lugar.
“No final do mês, a 27, e no âmbito do ‘Assim Conversas Melhor’, teremos ainda um almoço com a artista no Praça da Alegria Futebol Clube. Em breve abriremos inscrições para quem quiser participar e conversar”, avisa.
O novo espaço está sediado na Rua do Heroísmo, 139 B, abrirá portas na tarde do próximo sábado, às 16h00, mas funcionará, nos restantes dias, apenas mediante marcação – para que “o prazer a partilha” de um para um – espectador e artista - sejam ainda mais intensas e demorados.
O projeto é um dos apoiados pelo programa Criatório para o desenvolvimento da prática artística regular na cidade.
Mais informação sobre o projeto pode ser consultada em https://www.facebook.com/ocio.oico