No Jardim da Cordoaria, 13 é mesmo o número de sorte. Até ao dia 23 de dezembro, 13 artistas visuais reinventaram o tradicional pinheiro de Natal com outras cores , formas e mensagens. A cada um foi proposto o desafio de colocar ali a sua assinatura, num bosque mágico que de secreto tem muito pouco. De intervenções mais garridas a árvores mais obscuras, de interpretações mais íntimas a leituras mais gerais, há um percurso por 13 árvores que desconstroem o Natal de tempos antigos. Para ser visto por todas as idades.
Inês Arisca, “Afetos”
Inês decidiu transportar parte das suas influências para a estrutura. “Inspirei-me num dos aspetos desta época, a abertura para todo o tipo de afetos, com a família, com os amigos”. É como um sinal de esperança, “como nos podemos e devemos relacionar no novo ano”, resume. Há abraços, beijos, união. Desejos que 2024 seja ainda do que melhor que o ano que agora termina.
Oaktree, “A Montagem da Quadra”
O que te lembra o Natal? Ou por onde te faz viajar esta época festiva? Foi com estas perguntas na cabeça que o artista Oaktree interpretou a estação à sua imagem e semelhança. “É uma árvore feliz, como eu. Com figuras contentes, onde há grande proximidade e beleza ornamental”. Oaktree não foge à génese, cor é coisa que não falta e plantas são substância para crescer em abundância. “Lembram-me rituais de família, de amigos. É vibrante o suficiente para viver estas emoções”, refere.
MR. Kas, “Peace and Love”
Num tempo conturbado, onde as televisões nos trazem notícias menos boas de todo o mundo, o que precisamos, assume Mr Kas, são apenas duas coisas: “Peace and Love”. Este é o nome da sua árvore de Natal “com um design incrível”, descreve, que procura dar cor “fluorescente” a uma época que é fria a vários níveis . “Procurei, com esta intervenção, relembrar que o essencial está aqui [aponta para a árvore], com a cor a ser o fio condutor desta iniciativa”, destaca o artista. Paz e amor, entenda-se.
Heitor Corrêa, “Vem no fim do ano?”
Como passa um brasileiro o Natal no Porto, habituado que está ao calor que se faz sentir no seu país de origem? Heitor Corrêa é do Rio de Janeiro e há alguns anos que passa os natais na cidade, cidade para onde se mudou. Estranhou no início, mas a tradição logo se entranhou. Perante este desafio de arte urbana, decidiu cruzar as origens com a nova realidade. “Sou de uma zona perto da Floresta da Tijuca, com imensas referências que guardo na memória”. Para esta árvore convocou algumas. “O pé de carambola, que tinha no jardim da casa da minha avó, os animais como o tucano e as galinhas, que via todos os dias”, assume o autor. “E a jaca”, essa fruta que não esquece. A cor de Heitor promete tornar ainda mais próximos estes dois países irmãos.
Mariana de Castro, “Sem Nome”
Que o Natal é um tempo de memórias, não temos dúvidas. A artista Mariana de Castro recorreu a elas, misturou-as com elementos que marcam o seu trabalho atual e criou uma árvore que espera ser uma marca do seu futuro. “Este é um objeto que remete ao papel de parede dos meus avós, dos anos 20 e 30, e de que me lembro bem, convive com veados presentes no meu trabalho”. De cima a baixo, pintou-a de azul e colocou-lhe elementos dourados, “que brilham no escuro”. Uma árvore que ultrapassa um século, sempre com a memória como elemento de ligação.
MynameisnotSEM, “Untitled”
A árvore de Natal criada pelo artista é o exemplo concreto – e real – de que (quase) tudo é possível aplicado em diferentes contextos. Com um trabalho desenvolvido a partir da repetição de uma partitura da música, os movimentos da dança e os ritmos sincopados da música eletrónica, o artista transpôs isso para o cone natalício. “É um reflexo do meu trabalho, em que as oito faces aparecem com as cores e formas repetidas. Como se, ao vermos o desenho, achássemos que já o vimos antes”, acrescenta o artista. É uma repetição que cria a ilusão de , a novidade está ao virar da esquina.
Mariana PTKS, “Estrela da Manhã”
No meio de um jardim que acolhe o sol do meio da tarde vive uma “estrela da manhã”. Foi este o nome que deu à sua obra, inspirada no trabalho desenvolvido pelo pintor Bob Ross, “um mestre que homenageio ao pintar esta montanha com a sua técnica”. Numa espécie de “winter wonderland”, Mariana escolhe uma escala de cores frias, uma paisagem árida, gelada, com a representação de uma noite gelada e um lago, no sopé, que não se mexe. “Tentei usar a escala do arco-íris, mas que derivou mais para os azuis, os rosas, os brancos”. Cores de paz numa noite que se espera feliz.
Integram ainda esta mostra de árvores de Natal os trabalhos dos artistas Dub, Rafi die Erste, Gabriela Araújo, Rasoal, Costah e Paula Rezende.
Texto: José Reis
Fotos: Rui Meireles