Aos 18 anos, o jogador de padel é, hoje, uma jovem promessa neste desporto. Prestes a deixar o escalão jovem e a preparar-se para a afirmação no escalão senior, o atleta irá focar-se, no próximo ano, a “100%” na modalidade. Nos próximos meses irá competir em provas na Suécia, Itália, Suíça, França, Espanha e Portugal. E, se tudo correr bem, mais para o final do ano, o destino será o Paraguai, para a participação no Mundial deste desporto. Atuamente é um dos atletas apoiados pela Câmara do Porto no âmbito do Programa de Patrocínio a Atletas de Alto Rendimento e Elevado Potencial Desportivo. Encontramo-nos com ele no novíssimo Padel Athletic Club, local onde treina diariamente, sempre que está no Porto.
Conta-nos como começaste no padel. Pelo que sabemos, a tua ligação ao desporto não começou bem por aqui…
Eu jogava ténis quando era mais novo, comecei com 3 ou 4 anos. Por volta dos 8 anos, comecei a evoluir para outros desportos, o que coincidiu com o momento em que abriram vários clubes de padel em Portugal. Na altura o meu pai começou a jogar e eu fiquei com esse bichinho de tentar saber o que era e se tinha jeito para a coisa. Comecei aos poucos, enquanto jogava futebol. Com o tempo, o padel começou a correr muito bem e tornou-se difícil conciliar as duas modalidades. Tomei a decisão, deixei o futebol, escolhi o padel e agora sou muito feliz com esta escolha.
E desses primeiros tempos, que memórias guardas?
A primeira vez que joguei com uma raquete de padel foi na praia. Quis ver se me adaptava com aquilo. Correu bem (risos). Entrei nuns torneios, nesse tempo, e comecei a ganhar o gosto por este desporto, que ainda mantenho, com a ambição de querer ser melhor e estar no topo…
Que idade tinhas nessa altura?
Tinha 9 anos, mais ou menos…
… e, hoje, passaram 9 anos, precisamente. Tens 18. A forma como vês o padel mudou, de alguma forma?
Sem dúvida. Na altura encarava isto mais como diversão, uma forma de passar o tempo de maneira diferente. Mas hoje não tenho dúvidas que isto é o que quero para a minha vida, de uma forma mais profissional e como uma ocupação de futuro.
Quando é que ganhaste essa consciência?
Aos 14, 15 anos percebi que, se treinasse com a devida dedicação e levasse isto a sério, podia bater os melhores na modalidade e, a nível internacional, estar lá e defrontar os grandes nomes. Foi com esta visão mais clara que tive consciência de que isto podia ser algo sério.
Com essa idade – 14 ou 15 anos - imagino que o desafio seria o de conciliar os treinos com os estudos…
Sem dúvida que essa foi a parte mais difícil, porque quando saía das aulas precisava de estudar, mas também precisava de treinar. Até ao 9.º ano frequentei uma escola pública, tinha quase sempre aulas de manhã e conseguia conciliar os treinos. Mas a partir do 10.º ano as coisas complicaram-se (risos). Tudo começou a ficar mais sério, com torneios fora de Portugal, e as coisas ficaram efetivamente mais difíceis. Entretanto fui a Madrid e percebi que, se queria ser bom, teria de ir para lá. Em Portugal, infelizmente, ainda não há academias com a envergadura de outros países, assim como incentivos e apoios. Desde setembro do ano passado que frequento um projeto que me faz passar duas semanas por mês em Madrid e duas semanas em Portugal. Estou a terminar o 12.º ano online, tenho exame de Matemática na próxima quarta-feira (28 de junho) e termino este período. Depois é entrar na faculdade, tenho boa média.
E já tens ideia do que queres seguir?
Gestão. O meu pai é desta área, a minha irmã seguiu também por aqui, devo enveredar por esta área. Mas a prioridade agora é mesmo o desporto. Quando terminar o 12.º ano vou parar um ano e focar-me a 100% no padel, para poder ser ainda melhor. Depois vamos vendo.
Participar em torneios, ganhar mais internacionalizações e afirmares-te na modalidade são as tuas prioridades, de momento.
Sem dúvida. Comecei a participar em torneios aqui em Portugal, nas competições nacionais, mas é sempre difícil ganhar, gerir a derrota. Era muito novo. Na primeira vez que joguei lá fora a sensação foi exatamente igual, porque há muita gente a jogar já com bastante experiência. Comecei a sair mais neste ano e, com essa aprendizagem, as coisas têm corrido bem. Estive já em Cape Town (África do Sul), passei por Madrid, há poucos semanas participei numa competição no Mónaco e tem sido uma boa surpresa.
E como é defrontar os chamados “tubarões” do padel mundial?
Tem sido uma experiência agradável. Estou menos nervoso, agora (risos). Lembro-me das primeiras vezes em que participei em provas internacionais, e ficava muito, muito nervoso. Estava com toda a atenção em cima de mim. Mas com as experiências recentes tenho notado que fico menos tenso e já encaro as coisas com menos nervosismo.
A tua agenda dos próximos meses vai levar-te até onde?
Bem, no início do mês de julho vou participar no Campeonato Nacional de Jovens, o último que vou frequentar, já que vou deixar de competir na categoria de sub-18. A meio de julho vou à Suécia participar numa prova que está agendada para o dia 10. Em agosto as coisas param um pouco, as competições passam, em grande medida, para o Algarve. Mas a meio desse mês ainda vou até à Suíça, depois segue-se Espanha, França, Itália. Em novembro temos o Mundial que se realiza no Paraguai e, se for convocado, será a última vez que participo na categoria dos jovens. Será o meu terceiro mundial - o primeiro foi em 2017, depois fui convocado para o mundial de 2021, mas foi cancelado devido à pandemia.
O dia-a-dia de um desportista requer muita disciplina e rigor. O teu, acredito, não deve fugir a esta regra.
As minhas rotinas não diferem muito de quando estou em Madrid ou aqui no Porto. Por norma, acordo às 07h30 e faço uma hora de treino físico. Logo depois, uma hora e meia de padel. Na pausa de almoço, tento colocar em dia as matérias das aulas e os trabalhos pedidos, para depois retomar os treinos à tarde com mais uma hora e meia de padel. Quando estou a preparar-me para uma competição o treino pode aumentar para duas horas de cada vez.
E isso todos os dias….
Sim, todos os dias (risos). Por norma, estou em Madrid de segunda a quinta-feira. Regresso ao Porto à sexta-feira, para os treinos que antecedem os torneios, que decorrem, na generalidade, ao fim de semana.
Não parece ser fácil. Pelo menos, aparentemente, é necessário algum rigor e muita disciplina. Acredito que tenhas de abdicar de algumas coisas para tomares estas decisões.
Sim, é importante fazer escolhas e estabelecer prioridades. É necessário deixar de lado a parte da vida à noite e de sair com os amigos, por exemplo. Também nunca saí muito, é verdade. É mais complicado porque não consigo acompanhá-los na rotina habitual, às vezes falhamos alguns momentos importantes, mas a parte boa é que compensamos isso com os resultados que conseguimos obter nos torneios e competições. As pessoas que querem seguir profissionalmente este desporto devem saber que isto não é fácil. Antes pelo contrário, é muito, muito difícil, são precisos muitos sacrifícios para lá chegar.
Estamos no Padel Athletic Club, espaço recentemente inaugurado em Ramalde, e que é, atualmente, o local onde treinas quando estás no Porto. Para um jogador de padel que procura ser cada vez melhor, o que representa uma infraestrutura como esta (que tem 14 campos e está apetrechado de uma série de mais valias para a prática desportiva)?
Tem sido incrível ter a oportunidade de treinar aqui, neste complexo desportivo. O equipamento tem tudo aquilo que precisamos, de campos com a máxima qualidade até fisioterapia e um ginásio, que está quase a abrir. Aqui podemos fazer o dia a dia normal de um atleta, com todas as condições no mesmo espaço, e tem corrido muito bem.
O que é essencial para se treinar a este nível?
Em termos práticos, o campo de padel tem de ter boa visibilidade, ter uma altura suficiente e um piso que possibilite um bom ressalto da bola. É importante ainda ter um grupo de treino que esteja ao mesmo nível. Este jogo joga-se a pares e é preciso sempre adaptar o treino conforme os adversários. Tenho treinado com o Diogo Rocha, que é meu treinador. Ele está agora lesionado, infelizmente, mas tem-me arranjado solução, sempre dentro do que precisamos e estamos à espera.
O Diogo Rocha é uma das tuas referências nesta modalidade?
Claramente, o Diogo Rocha e o João Bastos, que também já foi meu treinador. Ambos praticam um estilo de jogo muito parecido com o meu, mais interventivo e direto.
E para além destas influências mais pessoais, tens atletas que segues, a nível internacional, e que são uma inspiração para ti?
Lá fora tenho dois ou três jogadores que sigo com mais atenção: o Fernando Belasteguin e o Sanyo Gutierrez, dois atletas mais velhos que acabam por ser exemplos que quero seguir, pela forma como encaram este desporto.
Há pouco fizeste um retrato menos feliz da forma como o padel ainda não é apoiado em Portugal. Achas, no entanto, que esse cenário tem vindo a mudar?
Bem, o padel não está ainda no patamar do ténis, com apoios financeiros tão avultados e mediáticos mas, aos poucos, as coisas começam a mudar. Estou atualmente com o apoio da Federação (Portuguesa de Padel), conto também com o patrocínio da Câmara do Porto, o que torna tudo ainda mais fácil. E tenho ainda uma marca de equipamentos desportivos que, em parceria com outras marcas, me fornece todos os materiais necessário, o que é uma grande ajuda.
Até porque o padel é um desporto caro, certo?
Se não tivesse estes apoios, sim. Só para teres uma ideia, sempre que partimos uma raquete, cada novo exemplar custa entre 250 e 300 euros. E as viagens para competir também são uma grande despesa. Os apoios são, por isso, fundamentais e ajudam muito, mesmo.
E como avalias esse apoio que a Câmara do Porto te forneceu este ano, ao seres um dos atletas incluídos no Programa de Patrocínio a Atletas de Alto Rendimento e Elevado Potencial Desportivo?
Acho que é um apoio que deve existir em mais locais e um incentivo para que outras cidades possam repetir este bom exemplo. Com as competições em que participamos, acabamos por jogar com a cidade ao peito e levar este reconhecimento ainda mais longe. Só tenho a agradecer o apoio dado para que possa continuar a fazer este meu percurso.
E, para terminar, desafias-me para uma partida de padel? O que devo saber antes de começar?
(risos) Bem, como divertimento, este é um desporto fácil. É só deixares jogar, de forma descomprometida e sem medo de falhar, atento ao que os adversários vão fazendo e respeitando as regras. Mas para quando as coisas assumem um ar mais profissional, sério, é mais difícil, como todos os desportos. Mas nada é impossível.
Entrevista: José Reis
Fotos: Guilherme Costa Oliveira