Este espaço é semelhante às célebres bonecas russas que, dentro delas, guardam algo ainda mais pequeno, em tudo igual ao seu exterior. A Galeria DENTRO fica (precisamente) dentro de um atelier artístico, dentro de um edifício no coração da cidade do Porto, uma surpresa que só quem lá entra consegue descobrir.
Num momento em que as candidaturas para os novos apoios do programa Criatório estão abertas, desvendamos, nesta reportagem, esta autêntica (pequena) matrioska cultural em pleno coração da cidade, espaço que recebeu apoio do programa Criatório no ano passado.
Entrar na Galeria DENTRO é como separar, cuidadosamente, as diferentes peças de uma matrioska: o exterior, maior, alberga no seu interior um objeto menor que, por sua vez, protege algo ainda mais pequeno. Com cuidado, separando as diferentes peças com precisão, minúcia e eficácia.
Na realidade, a DENTRO (passaremos a chamar-lhe assim, para ser mais simples) acaba por ser uma metáfora – feliz – das nossas casas: ultrapassada a fachada, entramos numa nova divisão que, a passos dados, nos leva a outra sala que nos transporta, logo a seguir, para uma outra dimensão.
E aqui estamos, na porta de um prédio que nos fará descobrir de quantas camadas pode ser feito, afinal, um projeto cultural.
Rua do Almada, 254. Porta grande, metálica, aberta de par em par, com letreiros que procuram distrair o nosso propósito. Entramos.
1º Andar.
Subimos.
Sala 14.
Entramos.
À nossa frente, por trás de uma porta de madeira, um atelier, um espaço de trabalho, como muitos outros que já antes visitamos, mas que se abre para outra sala, complemento ao que vemos à frente.
Estamos já dentro da DENTRO.
“[A DENTRO] é um espaço de programação e intervenção artística fundado em 2017”, diz-nos Carlos Campos, fotógrafo responsável pelo local.
Começou por ser um espaço pessoal, individual, onde o fotógrafo e artista visual explorava os conceitos inerentes ao seu trabalho, mas que depressa se tornou um espaço de partilha, de encontro com outras visões de uma mesma realidade.
“A ideia era complementar este espaço com outro para a experimentação de outros artistas, procurando um diálogo crescente entre os convidados e os residentes”, refere. “A colaboração e entreajuda é um dos motores centrais deste local de atividade artística”, defende o responsável, perante os desafios delineados para o projeto.
Duas salas de exposição
A porta de madeira, que surge logo após ultrapassarmos a entrada desta sala multidisciplinar, dá acesso a um outro local, mais pequeno, mas (cada vez) mais polivalente.
A galeria – dentro do espaço de trabalho - é composta por duas salas (pequenas) de exposição, com um total de 22 metros quadrados, e um objetivo claro: a de “promover a relação entre várias gerações de artistas, emergentes e outros já integrados no panorama artístico e de várias disciplinas, num espaço onde há total liberdade para criar novos modos de exposição”, refere Carlos Campos.
Esta galeria – espaço de trabalho, espaço de partilha – procura assim “estabelecer um diálogo crescente entre os artistas convidados e os residentes, em contacto com outros espaços de intervenção artística”, num claro contributo para intensificar a criação cultural no centro da cidade.
É isso que o espaço tem feito ao longos dos anos, com propostas que cruzam geografias e temáticas que os artistas convidados têm vindo a abordar – e a mostrar, posteriormente.
Próxima exposição
Na base de toda a ação, admite o responsável, está a “ligação entre a prática de três gerações distintas, abrindo espaço de diálogo entre artistas emergentes e outros já integrados no panorama artístico”, como é o caso do cruzamento e relação com nomes como Teresa Chow & David Lopes, Bárbara Rosário, Hernâni Reis Baptista, Carlos Trancoso & Ivan da Silva, Fabrizio Matos e João Pinto, com trabalhos regulares a partir das intervenções no espaço, apresentados já nos últimos anos.
“E é através da apresentação destes artistas, com abordagens distintas aos problemas da contemporaneidade, que se procura não só dar continuidade ao seu corpo de trabalho no âmbito deste projeto, como também destacar uma programação diversa que promove o pensamento e o diálogo entre o público, os artistas e as questões que nos englobam”, admite este responsável.
A DENTRO viu a equipa crescer, em 2019, com a inclusão de Beatriz Bizarro, artista visual e performer, e Maria João Ferreira, artista visual e designer, na lista de coordenadores e curadores artísticos.
O espaço foi apoiado, em 2021, pelo programa municipal Criatório, um contributo para uma programação (ainda mais) regular e contínua. Em breve, acolherá mais uma exposição, desta vez da artista Bárbara Rosário, que inaugura a 12 de março e fica patente no local até dia 3 de abril.
“Queremos continuar a apresentar estas propostas, para além de uma série de atividades que procuram aproximar o público dos processos e práticas artísticas, num discurso mais direto com os artistas convidados — Observatório Paralaxe, João Pedro Amorim, Inês Tartaruga Água, Carlos Campos e Oficina Arara — a fim de estabelecer essa ponte entre o público e os processos de criação”, finaliza Carlos Campos, destacando o papel fundamental do público no acompanhamento de todo o processo.
O espaço pode ser livremente visitado de segunda a sábado, entre as 15h00 e as 19h00. Mas não bata à porta, porque poderão não abrir: para entrar dentro da DENTRO é preciso marcação prévia.
Mais informações: https://www.facebook.com/DENTR0/
Reportagem: José Reis / Ágora
Fotografias: Imagens cedidas pela Galeria DENTRO