No âmbito da BALUARTE, que terminou neste fim de semana, nem só o Silo Auto ganhou novas formas. O centro da cidade também foi palco da intervenção de uma mão cheia de artistas convidados para explorarem, em grande escala, locais que estão no meio de nós. Uma dessas obras, assinada pela dupla alemã ZEBU, já pode ser apreciada na Rua de Camões.
Quem conhece o trabalho dos ZEBU não achará estranha a explosão de cor que nasceu na parede que cruza a Rua de Camões com a Rua do Paraíso, uns passos acima da zona da Trindade. No entanto, quem não conhece o trabalho da dupla, não fica indiferente a esta composição abstrata, mas cheia de vida(s).
Nas semanas em que a BALUARTE ocupou os pisos do Silo Auto, a exposição de arte urbana potenciou também a intervenção em espaços públicos, expandindo, desta forma, a influência destes artistas pela cidade.
A dupla ZEBU, composta desde 2015 pelos artistas visuais Lynn Lehmann e Dennis Gärtner, aceitou o convite lançado pela Ágora e decidiu deixar a sua marca numa cidade “com uma cultura vibrante”, conforme referem.
Para este desafio, a dupla decidiu manter os traços principais que são reconhecíveis no trabalho desenvolvido, criando uma linha uniforme e identificativa da obra que tem vindo a desenvolver em vários países.
“A cor tem vindo a desempenhar um papel crucial na nossa arte e, com este mural, acabamos por nos concentrar mais nesse aspeto. [Este trabalho] Acaba por enfatizar as formas e as suas interações, mostrando como pode envolver e transformar ainda mais a experiência do espectador”, revela a dupla.
Para que tal pretensão fosse real, muniram-se de cores fortes, manchas de cor disforme que, na sua dimensão, ajudam a construir a visão de uma possível narrativa (sempre ambígua, sempre pessoal) que gostariam de passar.
“A ideia [para este mural] surgiu de experiências recentes com recortes de papel que fizemos no nosso estúdio”, revelam os artistas. “A partir desses recortes, e tendo como imagem de fundo a parede de que nos ‘ofereceram’, criamos uma composição colorida que complementasse este espaço”.
Esta foi a estreia da dupla alemã no Porto, uma experiência que consideraram “enriquecedora”. “O ambiente foi incrivelmente acolhedor, adorámos interagir com os locais. Ficámos particularmente inspirados pela arquitetura mais antiga, pelas ruas estreitas repletas de casas históricas, assim como com os azulejos pintados que adornam os edifícios”, referem.
O trabalho que agora respira (e transpira) no cruzamento entre as ruas de Camões e do Paraíso é a primeira de quatro obras “fora de portas” já concluída, no âmbito da segunda edição da BALUARTE.
Texto: José Reis
Fotos: Rui Meireles