11/11/2024

As diferentes aulas do Desporto no Bairro voltaram a ocupar ringues e parques no coração da cidade. Durante várias semanas, monitores e jovens juntaram-se para continuar a produzir talentos nas quatro áreas de ação deste programa municipal. Em dezembro, o ponto final desta quinta edição acontece com um grande espetáculo com a participação de vários convidados.

 

Há quase um ano (a completar em novembro) que a morada do brasileiro Mateus Cardoso tem rua portuguesa. Mudou-se de um grande aglomerado populacional do outro lado do Atlântico para a segunda cidade do país, com a vontade de integrar um projeto que lhe permitisse continuar a fazer aquilo que mais gosta: levar a arte de rua a todos, em aulas de breaking que não excluem ninguém. “Sou professor de Educação Física e estar neste projeto tem sido muito gratificante, pois tem-me permitido passar o conteúdo que conheço e porque me revejo nestas crianças”, assume.

 

 

Mateus, mais conhecido no meio como Bboy Zon, é um dos monitores desta edição do Desporto no Bairro, que tem ocupado parte das suas tardes no Bairro do Lagarteiro. O campo de jogos, preparado para multidesportos, tem nesta quarta-feira um tapete para que os mais pequenos (e até os maiores) possam experimentar as técnicas que aprendem, todas as semanas.

 

 

Gonçalo, de 9 anos, é aquele que nunca falta. Mal termina a escola, por entre os intervalos do ATL, corre para o canto do campo e começa a dançar como gente grande. “Já venho aqui há dois anos. Antes treinava em casa, mas depois eles foram ao ATL e convidaram-me a vir. Tinha vergonha no início, mas gostei e agora estou aqui”.

 

Para ele, esta dança “não é difícil, é uma coisa que que me permite usar as minhas coisas, o meu estilo, e onde conheci vários amigos”. Já participou em batalha entre atletas, ainda fica um pouco nervoso, mas em dezembro, quando subir ao palco do tão desejado espetáculo final, sabe que irá “dar tudo” pelo breaking.

 

 

Roman Bedusenko, ou XXL, olha-o atento. É o responsável pela modalidade e revela que, este ano, as atividades voltaram a superar as expectativas, em especial “a Pasteleira, que contou com vários jovens a aparecer pela primeira vez”. “Temos hoje 12 miúdos prontos para integrarem o espetáculo final, o que para nós é um grande motivo de orgulho”, admite este elemento do coletivo Momentum Crew, de Max Oliveira.

 

 

Na Fonte da Moura o skate surf marca o campo de treinos

 

Ao longo dos últimos meses o Desporto no Bairro levou aulas de várias modalidades aos equipamentos da cidade. Preparados para receber atividades concretas, os ringues e os campos foram acolhendo, semana após semana, pequenos curiosos que se tornaram assíduos praticantes nos desportos propostos.

 

Na Fonte da Moura houve breaking e skate surf. Este último juntou dois pequenos aventureiros que, com um skate quase maior do que cada um deles, se portaram como “gente adulta”. Martim e Rafael têm 11 anos, vestem o equipamento “da casa” e, no final do treino de futebol, pegam no skate e serpenteiam as marcas no chão. “O que tenho gostado mais é de todos os exercícios”, atira Martim. “Eu gosto de me equilibrar em cima dele [skate]”, acrescenta Rafael.

 

 

Um a um, um a seguir ao outro, lá vão fazendo as manobras que Gonçalo Lopes e Ângelo Fiel Costa, os monitores de serviço, vão ensinando. “Esta é a minha primeira vez no Desporto no Bairro e tem sido muito fixe. Este projeto permite que os mais novos experimentem um desporto diferente, num apoio a desportos que habitualmente não aparecem”, revela Ângelo, para quem este programa “é um ensaio para a vida”.

 

 

Já Gonçalo sente que a adesão “aumentou neste ano”, com cerca de “dez miúdos a voltarem todas as semanas”. Um ponto de encontro que se repete com hora marcada, todas as semanas, no coração do bairro.

 

Ramalde do Meio: metade skate, metade street basket

 

No parque que vive lado a lado com a linha do Metro, a pista de Ramalde do Meio conta com poucos (mas bons) praticantes ao final da tarde. O céu cinzento pode ser o motivo, já que a ameaça de chuva parece estar iminente. Mesmo assim, este dia atípico parece não corresponder à realidade dos dias, já que o local tem visto aparecer “mais interessados” que nos anos anteriores.

 

 

Quem o admite é Nuno Sousa, um dos dois monitores de skate que vai fazendo as manobras no local, e que acrescente que “já começa a haver pessoas que repetem a participação anos seguidos”. “Começam por ser atividades que os miúdos receiam, até pelo medo de cair, mas depois experimentam e não querem outra coisa”, revela.

 

O mesmo se passa com o street basket, que ocupa o campo contíguo ao mini-skate park. João Borges, do União Académica António Aroso, responsável pelas aulas desta modalidade, lamenta que o arranque tenha sido dado mais tarde que os restantes, mas, mesmo assim, tem conseguido que um gripo “apareça e tenha interesse em participar nas aulas”. “Esta é uma oportunidade ótima para os miúdos, dares uma experiência que pode ser lúdica, mas também formativa”, diz. Aliás, alguns dos mais novos são já jogadores do clube, depois de terem participado nas edições anteriores.

 

 

Mas todos esperam que chegue esse grande dia: o momento em que todas as modalidades sobem ao palco para o espetáculo final, com a presença de convidados especiais e muita música. É favor marcar na agenda: 15 de dezembro, às 18h00, na Avenida dos Aliados, perante o olhar atento da majestosa Árvore de Natal. E com entrada livre.

 

Texto: José Reis

Fotos: Rui Meireles e Nuno Miguel Coelho

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