13/07/2022

Catarina Nogueira tem 43 anos e é natural do Porto. A número um do padel português jogou ténis durante 15 anos e foi três vezes campeã nacional.  

 

Quando deixou a modalidade, não sabia o que era o padel e não imaginava que fosse possível ter uma segunda carreira desportiva. Começou anos mais tarde, por brincadeira e para manter a atividade física e o convívio entre amigos. Os torneios acabaram por surgir e o "bichinho" mantém-se até hoje. 

 

Em junho passado, Catarina Nogueira recuperou o título de campeã nacional da modalidade, junto a Sofia Araújo. A dupla chegou ao Campeonato Nacional Absoluto como grande favorita e, um ano depois de terem sido surpreendidas por Catarina Vilela e Kátia Rodrigues, as duas melhores padelistas portuguesas da atualidade recuperaram o título conta a mesma dupla.  


 

Como é que o desporto entrou na tua vida? 

Sempre gostei de praticar vários desportos desde nova. Fiz natação, ténis de mesa, passei pelo basquetebol e depois pelo ténis. Agora estou no padel. 

 

O padel surge na tua vida de que forma?  

A primeira vez que experimentei foi em 2010. Na altura, já tinha deixado de jogar ténis, mas fiquei amiga do meu antigo treinador, o Pedro Cordeiro, que um dia me ligou para ir fazer um jogo de padel. Eu fui experimentar e percebi que quem jogava eram pessoas que também já tinham estado ligadas ao ténis. Estávamos ali por lazer, havia muito convívio, naquela ‘onda’ de reencontrar velhos amigos do ténis. Em 2015, a “coisa” passou a ser mais séria e tornei-me profissional. 

 

A experiência do ténis ajudou a que fosses (a) melhor no padel? 

Claro que sim. Sobretudo aproveitei bastante a experiência que adquiri ao longo dos anos com a competição: o saber competir, o estar habituada aos jogos mais difíceis e o conseguir lidar com a pressão. Nessa parte mais mental, a bagagem que eu trazia do ténis ajudou bastante. 

 

Quais são as principais diferenças entre as duas modalidades? 

Há muitas diferenças, apesar dos conhecimentos do ténis serem sempre uma mais-valia para esta modalidade, nomeadamente em certas pancadas. Mas são distintas, desde logo no facto de o campo ser todo tapado à volta e mais pequeno. No meu caso, utilizar o vidro e as tabelas como parte do jogo foi das primeiras diferenças com que tive de aprender a lidar: nas primeiras vezes que joguei, quando a bola passava para trás de mim, eu achava que já tinha perdido o ponto, mas não. Para além disto, é um desporto que se joga sempre a pares, enquanto no ténis estamos mais habituados a jogar singulares. 


 

Como é que as pessoas em geral veem a mudança do ténis para o padel? 

Algumas pessoas ainda encaram essa mudança como uma coisa negativa, mas não acho que seja um problema, porque é uma boa forma de manter a atividade física, que é essencial para a nossa saúde e bem-estar.  

 

Mas é uma modalidade menos exigente? Quais são as principais razões para haver tantas pessoas a jogar esta modalidade? 

Para quem joga a um nível social e médio, é de facto menos exigente do que o ténis. É mais leve e o facto do campo ser mais pequeno e dividido por duas pessoas torna o desporto menos ‘puxado’ fisicamente. O padel tem outra coisa que faz toda a diferença, que é a parte social. Primeiro, durante o jogo há mais interação, mais diálogo. E depois, no final dos jogos, as pessoas ficam a conviver e bebem umas cervejas. Toda essa espécie de ritual acaba por tornar a modalidade mais apelativa e é essencial para o seu sucesso. A partir de uma certa idade, parece-me normal a mudança do ténis para o padel. 


 

 

O padel tem aquela característica de haver quase um sucesso imediato. E no início havia a questão do porquê de isso acontecer. As pessoas experimentavam e divertiam-se logo, conseguiam trocar bolas e passar. Não havia aquele processo de frustração de principiante. E o que se notava, e continua a acontecer, é que a taxa de retenção do desporto para quem experimentava era muito grande, o que não é muito habitual noutros desportos.  

 

 

E como é o dia a dia de uma campeã nacional de padel? 

São três a quatro horas de treino por dia. Durante a manhã, faço treinos de padel e de ginásio, de preparação física. Nalguns dias, tenho um segundo treino durante a tarde, numa vertente mais de jogo. Depois há uma outra parte, menos visível, como a fisioterapia e a recuperação, que são muito importantes para no dia seguinte estarmos de novo aptos a treinar e termos rendimento. E há ainda outro momento que são as aulas, mas nesta fase sobra pouco tempo para as dar, porque é difícil conciliar com os treinos, as viagens e os torneios que tenho regularmente. É uma coisa de que gosto de fazer e esforço-me por ir mantendo, ainda que de forma reduzida, porque sinto que os alunos gostam muito e ficam entusiasmados com o meu percurso, fazem muitas perguntas sobre um determinado jogo ou competição.  


 

Como professora, quais são as principais diferenças que notas nos últimos anos no treino da modalidade? Há cada vez mais pessoas interessadas em aprender?  

Noto uma grande evolução, não só na quantidade – porque há cada vez mais pessoas a jogar e a ter aulas – mas também no nível dos jogadores, que têm evoluído muito. Há uns anos só havia dois ou três níveis de jogadores e agora a população que joga padel é tão grande que estes níveis foram alargados. O nível médio/geral de quem joga subiu muito nos últimos anos e isso é conseguido porque as pessoas não procuram aulas só para aprender a jogar, mas para aperfeiçoar a técnica e tática. 

 

Ao nível da competição, a evolução é enorme. Consegues ver isso como positivo, mesmo que às vezes a competição seja mais dura e a consequência seja perderes um jogo/torneio? 

É muito positivo. Nos primeiros tempos, quando fui experimentar, nem havia uma federação ou um circuito de torneios. E neste momento há toda uma organização que não havia: uma federação própria, um circuito de torneios federados, a divisão por categorias, as seleções nacionais e o padel escolar. E tudo isto faz com que cada vez mais apareçam jovens nos torneios, que tornam a competição mais difícil, mas mais interessante para todos: para o público que está a assistir e para nós, atletas, porque nos ajuda a ter mais motivação. 

 

 

Catarina Nogueira nasceu no Porto, cresceu na Invicta e o desporto está na sua vida desde que se lembra. Considerada a melhor jogadora da história do padel português, conquistou em 2019 o primeiro título português no Circuito Mundial de Padel. Catarina ocupa neste momento o 30.º lugar no ranking World Padel Tour, mas são ainda muitos os objetivos que tem para o futuro. 

  

Quais são as melhores memórias que tens e que ligam o Porto e o desporto? 

Eu sou uma fervorosa adepta do FC Porto e lembro-me de ir muitas vezes ao Estádio das Antas e mais recentemente ao do Dragão. Outra memória é da altura em que jogava basquetebol e em que fui, com o meu irmão, ver um jogo dos Harlem Globetrotters no Pavilhão Rosa Mota. Foi uma novidade na altura e aquele jogo marcou-me imenso. Já adulta, lembro-me de ir ver o Red Bull Air Race nos Jardins do Palácio de Cristal. Mais recentemente, recordo um torneio de padel que acontecia na Praça de D. João I, especialmente de uma final muito disputada e que ganhei: teve um sabor especial, porque estava na minha cidade, com a minha família e amigos ali a assistir. 

 

E quais são os teus lugares favoritos na cidade do Porto? 

Gosto muito da marginal do rio, local de que usufruo quase todos os dias, e dos Jardins do Palácio de Cristal. E, claro, de toda a Baixa da cidade e daquela vida e energia que se sentem ali. Gostava de poder usufruir mais, porque com os torneios e as viagens é difícil, mas sempre que posso vou jantar à Baixa, por exemplo. O Monte Aventino é outro dos locais muito especiais para mim, porque foi lá que comecei a jogar ténis. 

 

E o evento de que mais gostas? 

O São João, claro. Aquela noite é mágica. 

 


Quando estás fora, em treinos ou competições, do que sentes mais falta? 

Sinto sobretudo falta de casa, onde incluo a cidade do Porto, que é o sítio onde eu gosto de voltar. 

 

E quando regressas, o que trazes contigo e que consideras ser uma mais-valia? 

Trago as experiências ao nível da competição, mas também ao nível da relação com as pessoas. Continua a haver uma grande curiosidade sobre o facto de eu ser daqui. Noto isso sobretudo nos espanhóis, que fazem questão de me dizer que já cá vieram ou que gostavam de vir conhecer a cidade. Vejo que me acolhem bem porque gostam da minha cidade.  

 

Depois de tantos sucessos, ainda há objetivos a cumprir? 

Há, sem dúvida. Eu tinha o objetivo de voltar a ser campeã nacional, e consegui. É o meu 11.º título. Tenho também o objetivo de ganhar o Masters, que é o segundo torneio mais importante que há em Portugal. E, claro, continuar no World Padel Tour, tentando manter-me no top 30, mas a competitividade é enorme e, por isso, é um desafio gigante. 

 

Texto: Catarina Madruga

Fotos: Rui Meireles

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