13/09/2024

A nova edição já decorre na Piscina Municipal Eng. Armando Pimentel, até ao final de setembro. Todas as semanas, oito destemidos formandos atiram-se à aventura para descobrirem os segredos de ser um mergulhador de excelência. Tudo sob o olhar atento de quatro formadores que, admitem, se sentem felizes com o sorriso no rosto destes alunos improváveis.

 

Naquele dia, a pausa habitual da manhã para um café rápido, entre a rotina diária do trabalho, revelou-se finalmente vencedora. Quase que por sorte, por entre uma vista rápida pelas redes sociais, encontrou algo que o fez parar e ler: uma nova edição do (tão desejado) curso de mergulho. “É que já tinha tentado da primeira vez em que abriram esta formação”, atira. Nesse tempo, a desejada rapidez não lhe sorriu.

 

Agora, com a pressa possível, enviou os dados que eram solicitados. Tal como dessa vez, acreditou que agora é que era, que conseguiria ser um dos primeiros interessados a inscrever-se. Não interessava se ficava em primeiro ou em último, o importante era ser um desses primeiros oito. E assim o fez, sempre com esperança, porque o pensamento positivo, diz-se, atrai melhores energias. Acabou por ter a resposta que tanto pretendia: a partir da segunda semana de setembro, era um dos (muito felizes) contemplados com a frequência gratuita da segunda edição do curso de mergulho promovido pela Ágora.

 

 

João Garcia, 35 anos, “de Coimbra, mas a viver no Porto”, não é, afinal, novo nisto. Por entre um gosto especial pela água – e o moreno da pele denuncia-o! -, lá foi tentando algumas experiências no mergulho, mas nada de muito sério. “Quando soube que tinha sido aceite fiquei muito entusiasmado”.

 

 

Com o início do curso, e apesar de ser dos mais bem preparados, alguns receios ainda persistiam, “principalmente com os ouvidos”. Mas graças ao acompanhamento muito próximo com cada um dos alunos, onde explicados os melhores procedimentos a tomar, foram-se dissipando. “Já consegui chegar ao fundo sem problemas”, revela, vitorioso. E só pensa em dar um passo em frente, conhecer mais, e chegar à última etapa, onde farão os mergulhos no mar.

 

Da natação no rio e no mar ao mergulho em profundidade

 

A segunda edição do curso na Piscina Municipal Eng. Armando Pimentel, que decorre até ao final de setembro, tem ainda menos de uma semana, mas os corpos já se fizeram às águas do tanque. Menos profundas do que no mar, é certo, mas demasiado fundas para quem nunca experimentou algo do género.

 

 

Que o diga Sorin Dinca, romeno com um português perfeito, de 49 anos, que “nunca na vida” pensou aventurar-se por água nunca mergulhadas. Para a decisão pesaram duas coisas: o anúncio que viu no Instagram e… “ok, morar a cinco minutos da piscina, a pé”, acrescenta, a rir. Quando assim é, as coisas tornam-se aparentemente mais fáceis e menos passíveis de serem contornadas.

 

 

Sorin sempre gostou de água, “de nadar no rio e no mar”, de praticar desportos aquáticos, mas o mergulho nunca lhe passou pela cabeça. “Vi, arrisquei e valeu a pena”. O risco é, de resto, motor para procurar ser melhor, mesmo que ainda sinta “algum stress e adrenalina quando está dentro de água”. “Gerir a respiração é o mais difícil”, assume, mas o segredo está em controlar as emoções e seguir o que instrutores dizem. “Não podemos entrar numa aflição e temos de saber acompanhar as instruções que nos dão por gestos”, destaca.

 

Curso para (quase) todas as idades com um participante especial

 

João e Sorin são apenas dois dos elementos de um grupo que, mais uma vez, pode ser descrito como “heterogéneo”. Andreia Dias, um dos dois instrutores presentes (aos quais se juntam dois dive masters), volta a surpreender-se com um grupo que é “feito de várias idades, várias experiências, vários objetivos”.

 

“Acho que o mergulho é motivo de grande curiosidade aqui, porque estamos numa cidade ligada ao mar, onde todos nadamos um pouco, bem ou mal”, diz Andreia, desmontando um (falso) mito: “para fazermos mergulho não precisamos de ser bons nadadores, basta termos aptidão e à-vontade para estar na água”.

 

 

Um dos segredos do sucesso é o “caráter individualizado” com que é tratado cada formando, acompanhando, passo a passo, cada conquista. Insistindo quando a técnica ainda não está bem, resistindo quando o cansaço parece dar lugar a algum desânimo. Basta acreditar, querer, não ter medo de experimentar, quer se tenha 10 anos, quer se tenha 99.

 

E nesse campo, Afonso Santos é um exemplo. Tem apenas 12 anos, é o mais novo do grupo – aliás, é o mais novo até hoje a frequentar este curso -, mas nem por isso se intimida de nadar entre os “tubarões” mais velhos. A idade, dentro de água, só é diferente na distância a que se pode mergulhar. Até porque, admite Andreia, “regra geral, são os mais novos que apresentam maior apetência e mais à vontade” no meio aquático.

 

 

Afonso assume não ter qualquer medo deste meio, algo que os seis anos em que praticou (e ainda pratica) natação o ajudaram a controlar. Apesar de se sentir um verdadeiro “peixinho dentro de água”, acusa as “dores de ouvidos” como aquilo com que ainda lida menos bem.

 

 

Mas o tempo irá ajudar a que se ambiente a limites cada vez mais longínquos, a descidas cada vez mais profundas. A objetivos cada vez mais ambiciosos. Porque ali, dentro de água, as metas são as mesmas, quer se tenha 12 ou 80 anos: aprender tudo o que houver para aprender, como o tempo adequado para se aprender, porque oportunidades como esta, admite Sorin, são “únicas”. Só acontecem uma vez na vida. Mesmo que se insista uma e outra vez. Como fez João Garcia, que nunca desistiu.

 

Texto: José Reis

Fotos: Andreia Merca

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